Ao tempo em que se desenrolam as campanhas eleitorais na UFSM, relembro os anos nos quais dediquei minha vida para obter a formação que me deu maturidade intelectual e profissional. Em um ciclo que se iniciou em 1977, quando ingressei no Curso de Letras, e termina em 2020, quando concluí meu tempo como professor do EAD (Universidade Aberta do Brasil), adquiri não apenas um diploma para exercer uma profissão, mas também a formação humanística que pauta minhas atividades em diversas áreas, dentro e fora da universidade. De aluno da graduação, passei a docente, tendo sido aprovado em concurso no ano de 1984; ascendi na formação ao obter o título no Mestrado em Letras da UFSM, fazendo em seguida o doutorado em Teoria da Literatura na PUC-RS (com incentivo de um programa federal para afastamento). Exerci cargos de coordenação de curso e chefia de departamento, membro da COPERVES e Pró-Reitor de Graduação, em 2010-2013, a convite do então reitor, Felipe Müller (motivo de estar listando estas memórias, como verão ao final).
Nesta trajetória, tive a oportunidade de testemunhar mudanças, tanto na conjuntura político-social do país, quanto na estrutura e nos modelos educacionais do meio acadêmico. Quando ingressei como aluno, vivíamos uma ditadura, com repressão aos movimentos sociais, em especial dos estudantes, e censura no meio cultural, de modo crucial as bases teóricas da educação superior. Logo, assim que iniciei minha carreira docente, tratei de me engajar nas lutas da categoria, tendo participado do movimento que criou a seção do sindicato, SEDUFSM, em 1992 (na qual exerci cargos em suas diretorias, inclusive a presidência). Este foi meu primeiro contato com o ainda aluno, Felipe Müller, com quem me encontraria em diversos movimentos em favor do ensino federal, público, gratuito e de qualidade. Participei de todas as campanhas eleitorais para a reitoria, e acompanhei, como sindicalista, as administrações na sequência. Na condição de professor e membro da SEDUFSM, participei nos debates sobre Ensino a Distância, programa REUNI e Ações Afirmativas. Quando foi eleito, em 2010, Felipe convidou-me para integrar a sua equipe na PROGRAD. Um trabalho desafiador substituir o professor Jorge da Cunha, que tinha dado início aos projetos que fizeram a UFSM passar de 64 cursos para 122, mais que dobrando o número de alunos, quase mil novas vagas de docentes e outras tantas de técnicos. O traçado físico de prédios e espaços públicos se transformaram decisivamente nas gestões de Clóvis Lima (Felipe como vice-reitor) tirando do papel (e dos sonhos) prédios como o das Letras e da Música, e legando à comunidade universitária e santa-mariense o maior e melhor ambiente cultural: o Centro de Convenções.
Naquele período, para além de termos concluído o processo de implantação do Programa REUNI, estabelecido as bases para o acolhimento dos cotistas, em especial os indígenas, foram muitas as conquistas. Na PROGRAD, junto a uma equipe de qualidade, deixamos muitas marcas importantes nos modelos de gestão e rotinas acadêmicas. Para mim, a mais importante foi: quando assumi, os registros nos Diários de Classe ainda eram manuais, quando concluí meu mandato, já eram feitos de modo digital e online. Tive a oportunidade de acompanhar a gestão de várias administrações, e posso dizer com convicção: nenhum gestor foi mais eficiente (de modo transformador) como o foi Felipe Müller, o qual, à frente da Instituição, foi um administrador com uma larga visão da estrutura e das necessidades da UFSM. Muitas coisas podem ser ditas a favor ou contra o Felipe, mas não há como negar o legado que sua administração deixou para a Instituição. Seu interesse, esforço e conhecimento em conduzir um projeto como o de colocar a Universidade em destaque no cenário acadêmico nacional são notáveis. Por isso, deixo aqui confirmado meu apoio e torcida para que Felipe Müller volte para conduzir a UFSM nestes tempos de negacionismos e ataques à ciência. São desafios que as mudanças sociais, tecnológicas e mesmo climáticas colocam à nossa frente, e dou testemunho da minha confiança na Chapa 1, Felipe e Alessandro, para conduzir a UFSM nesse processo.
Orlando Fonseca é professor titular da UFSM – aposentado, Doutor em Teoria da Literatura e Mestre em Literatura Brasileira. Foi Secretário de Cultura na Prefeitura de Santa Maria e Pró-Reitor de Graduação da UFSM. Escritor, tem vários livros publicados e prêmios literários, entre eles o Adolfo Aizen, da União Brasileira de Escritores, pela novela “Da noite para o dia”.
Texto publicado originalmente aqui.